
Primeiro post! Aqui, estão dispostos três exemplos de "técnicas do caminhar":
Flâneur:
O termo francês “flâneur” significa, literalmente, “andante”, “transeunte”. A partir do século XIX, porém, essa palavra veio a ser relacionada a um sentido mais amplo: aquele que anda pelas ruas para observar e entender os diferentes aspectos da vida urbana, de psicológicos a arquitetônicos. A estratégia conhecida como flânerie (o ato de transitar) passou a ser usada por inúmeros filósofos, escritores, poetas e artistas de todos os tipos, em uma tentativa de entender a rua e o espaço das cidades ao experienciá-los diretamente, e o movimento chegou a ser analisado por alguns pensadores, entre eles Charles Baudelaire, na França, e Walter Benjamim, na Alemanha.
A técnica consiste em explorar cada recanto das cidades, acumular o máximo possível de informações, porém ao mesmo tempo permanecer afastado, como um observador distante, que analisa criticamente tudo o que é observado do ponto de vista teórico. O flâneur, portanto, desempenha dois papéis simultâneos: o de participante do fenômeno das ruas e o de observador imparcial. O flânerie contribuiu enormemente para a compreensão das mudanças súbitas durante a Revolução Industrial, e pode ser praticado até hoje por aqueles que desejem aguçar sua visão crítica e entender o funcionamento do sistema urbano, sobretudo sob o aspecto arquitetônico. Em seu livro Passagenwerk, ou “O Projeto das Arcadas”, Walter Benjamim reúne uma coletânea de escritos sobre a vida na cidade de Paris do século XIX, dando atenção especial às arcadas cobertas, típicas da Paris daquele tempo.

Teoria da deriva:
Criada pelo pensador situacionista Guy Debord, entre os anos ’50 e ’70, era uma técnica de estudo psicogeográfico que pretendia analisar a reação da psique humana ao meio ambiente urbano, através de um “redescobrimento” da cidade e sua arquitetura. Esse redescobrimento é obtido com um exercício de vaguear sem rumo, como o movimento de barcos à deriva no vento: quando não há um destino específico, fica-se livre para analisar atentamente todo o caminho percorrido, “recriando” a cidade em sua mente como um lugar para explorar. Além de matéria de pesquisa psicológica, também é uma técnica inestimável para arquitetos que desejam entender o espaço urbano do ponto de vista situacionista, ou seja, a sociedade influencia diretamente a arquitetura, e não o contrário; avanços arquitetônicos andam lado a lado com os avanços da própria humanidade.
Parkour:
Também conhecido como l’art du déplacement (literalmente, “a arte do movimento”), é uma espécie de doutrina, muito difícil de definir, que tem como objetivo treinar o corpo e a mente

para situações em que é necessário fugir. O objetivo básico é se deslocar de um ponto ao outro, em qualquer ambiente, da forma mais direta e eficiente possível, de modo a possibilitar um deslocamento rápido e de mínimo gasto energético em caso de emergência. Fundada por David Belle, desportista francês, a técnica é muitas vezes confundida com um esporte radical, devido aos variados saltos e movimentos que podem ser arriscados, porém está na verdade mais próxima do conceito de artes marciais, uma preparação corporal e mental com uma filosofia específica.
Sob o ponto de vista arquitetônico, é provável que ao praticar essa atividade seja possível estabelecer um relacionamento mais íntimo e interativo entre a pessoa e o espaço, seja ele urbano ou natural, desse modo aperfeiçoando sua percepção do mundo. Sob muitos aspectos, é uma atividade benéfica, seja como treinamento ou como estratégia de caminhar.
Aqui vemos um vídeo que parodia a técnica do parkour, confeccionado por estudantes de comunicação social da Universidade Federal de Minas Gerais.
Por hoje, chega de teoria.
Cris Gibson C. Gonçalves